Recentemente o polêmico assunto do abortamento tem estado em voga. Não só pela recente descriminalização do mesmo na Irlanda, mas também pelo julgamento que ocorreu na Argentina. Também aqui no Brasil, finalizou-se a pouco uma audiência pública pra discutir o assunto no STF. Pra quem tiver interesse, os vídeos estão no Youtube, e deixo abaixo o link para a primeira parte de quatro:
Assistindo às discussões percebe-se logo algo que sempre se sobressai quando o tema é aborto: os argumentos religiosos. E dentre as religiões, três se destacam por serem radicalmente contra o aborto em qualquer caso: o catolicismo, o islamismo e o espiritismo. Não incluí aqui os cristãos protestantes pois eles não são unânimes quanto a isso. Algumas denominações protestantes são contra, e outras são a favor.
Das três religiões que são radicalmente contra o aborto, a que mais nos afeta de forma substancial enquanto sociedade é obviamente o catolicismo. E é uma curiosidade sobre ele que quero trazer aqui.
Você sabia que o catolicismo nem sempre foi contra o aborto? Embora os católicos de hoje em dia sejam em sua maioria radicalmente contra o aborto, e em qualquer circunstância, por equipara-lo a um assassinato, isso nem sempre foi assim.
É verdade que Santo Agostinho condenava o aborto por romper a conexão entre o ato conjugal e a procriação. Mas não equiparava o ato a um homicídio, pois dizia que “não existe ainda alma viva em um corpo que carece de sensações”. Santo Agostinho defendia que só a partir de 40 dias após a fecundação se poderia falar em pessoa.
Nessa mesma linha, os Cânones Irlandeses de 675 previam 14 anos de punição a pão e água para quem tivesse relações sexuais com a vizinha, mas apenas 3 anos e meio para quem destruísse o embrião no ventre.
Quase mil anos após Santo Agostinho, já no século 13, um outro pai da Igreja, São Tomás de Aquino, também se pronunciou sobre o assunto. Corroborando o colega, ele reafirmou não reconhecer como humano um embrião que não completou 40 dias, pois antes disso ainda não lhe teria sido infundida a “alma racional”.
Essa posição defendida por Santo Agostinho e reforçada por São Tomás de Aquino ganhou status de posição oficial da Igreja a partir do Concílio de Trento no século 16.
Embora a Igreja tenha passado a maior parte da sua história sendo tolerante com aborto, foi só em 1869 que ele ganhou a seriedade que tem hoje, tendo sido equiparado a um homicídio com a publicação do boletim Apostolicae Sedis do Papa Pio IX.
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